quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lidando na mangueira


Andarilho


Se chegou de tardezita
Num pingo bom, mas cansado;
A barba de tantos meses,
As vestes, muito batida,
E foi aquela alarida
Da cachorrada a saudá-lo.

Pediu licença, apeou,
Indagou pelo patrão,
De todos apertou a mão
Por ser ato costumeiro,
E disse; sou bom campeiro
A procura de trabalho,
Na lida, não me atrapalho
E nem me escapa boi matreiro.

Sou bom no tiro de laço,
Conheço tudo de pealo,
Sou domador de cavalos
E prefiro os aporreados,
Ando assim, desajeitado,
Por talagaço da vida,
Mas fui criado na lida
E estou aqui para ser testado.

O patrão lhe respondeu;
O capataz me pediu um peão,
Puxe o pingo para o galpão,
Desencilhe, dê-lhe água
E o solte no potreiro,
Depois, se chegue ao braseiro
Para tomar um chimarrão,
Amanhã, tem marcação,
Vamos ver teu desempenho.

O índio saiu-se bem,
Demonstrou valor e raça
E logo caiu na graça
Do patrão e da peonada.
Falava pouco, quase nada,
Nem contou sua procedência,
Timha um olhar de ausência
E a inteligência afinada.

Nunca ia ao bolicho,
Fazia alguma encomenda,
Dizia; não vou à venda
Fico reparando a estância,
Podem seguir descansado,
Mas nesse dia, para estes lados,
Se bandiaram uns castelhanos,
Pois conheciam, os paissanos,
O sistema da nossa gente;
Já estavam acostumados
A saquearem as fazendas,
Maltratar chinas e prendas,
Causarem grandes estragos,
Mas desta feita, os safados,
Deram com os burros na água.

O guaipeca que ficou
Denunciou a aproximação,
De três índios a cavalo,
Bombacha de muito pano,
E o taciturno mundano,
Notou que eram castelhanos,
Colocou sua adaga à mão.

E os cueras facilitaram,
O julgando um pobre diabo,
Por não ter ido ao trago
Que corria na cantina,
Não sabiam que a sina
Dos três já estava traçada;
Deixar a carcaça espetada,
Na adaga do paladino.

E não foi tarefa difícil
Dar cabo aos três bandoleiros,
Para o guapo, forte e ligeiro,
Na lida com a arma branca,
Depois, sumiu-se na pampa,
Deixando um chasque assinado:
Em parte, já fui vingado,
Vou seguir minha andança.